terça-feira, 10 de março de 2015

Sobre a comunicação não verbal ou para-verbal - discurso genuíno



A comunicação eficaz, como já se sabe, está repleta de estratégias. O problema ocorre quando o uso dessas estratégias está muito afastado da percepção do próprio emissor da informação. As estratégias consideram a articulação correta entre a comunicação verbal e a não verbal.
Mesmo não sendo o foco principal dos meus estudos em nível de doutoramento, de forma alguma podemos descaracterizar a relevância dos elementos que compõe o discurso. Elementos tais que, em contrapartida, são subdimensionados pela maioria dos profissionais que utilizam da fala como principal ingrediente de sua atuação. Isto é para aqueles que copiam 'fórmulas mágicas' por aí afora.
Em se tratando de comunicação não verbal temos que ter claro que o discurso, bem além das palavras, tem que possuir estreita relação com circunstâncias reforçadoras da linguagem não verbal (na literatura da área em espanhol encontra-se o termo para-verbal*, algo que me agrada mais do ponto de vista conceitual). Neste conceito de para-verbalidade estão inseridos elementos como os gestos, expressões faciais, entonação da voz, intensidade da fala, modelos articulatórios, ritmo e harmonia no encadeamento de palavras.
O indivíduo que mais se preocupa com o que vai dizer na maior parte das vezes não concebe ou reflete sobre COMO vai se expressar. Conceito já vencido, correto? Mas o importante para isto é considerar o fato de que a fala mais genuína, amalgamada com o estilo de personalidade, traz consigo esses elementos da comunicação para-verbal como indicadores do estilo próprio ou único (agora sua atenção muda!). A falta de consciência sobre como esses elementos aparecem em seu discurso é que corresponde a uma total falta de controle sobre sua comunicação.

Para entender melhor: trata-se da bruxa má (no papel de madrasta) e a bela princesa que passa a desconfiar, num determinado momento – quando mais madura e mais atenta –, das boas intenções de sua preceptora. Para a ‘pobre’ princesa que de boba não tem nada, os elementos para-verbais atestam absoluta falta de genuinidade no discurso da rainha má ou da disponibilidade de auxílio da ‘velha amável’ – ou bruxa. Resvala sempre pela face da bela princesa um quê de dúvida quanto ao discurso que ouve. Porém, recursar-se a participar do processo de interação pressupõe muita falta de elegância social para uma menina de ‘boa formação’ como as princesas ou mocinhas dos contos de fadas.
Em analogia, o mesmo ocorre com o discurso do indivíduo que tenta convencer os outros pelas palavras, mas esquece que sua comunicação é um todo complexo. Demanda tempo conhecer como cada elemento que aqui citamos integra favoravelmente o discurso. Demanda também um processo de racionalização sobre como utilizar esses elementos de forma que o conjunto soe razoavelmente aceitável do ponto de vista de convencimento. E não estamos tratando aqui de programação neurolinguística – particularmente eu dispenso essa pseudociência. Estamos tratando seriamente da originalidade, da autenticidade. O convencimento ao qual me refiro é a organização do discurso como sendo um todo agradável e pertinente a um estilo. Convence porque é consistente, é muito próprio e coeso. É constante também – passamos a identificar uma pessoa portadora de um tipo muito particular de conversa que passa longe da ideia de ‘conversa fiada’ toda vez que abre a boca para falar.

Essa concepção de discurso é que tratamos aqui. Técnicas e estratégias de comunicação são processos que devem ser trabalhados em contexto clínico para agregar autenticidade à fala. Muitos profissionais almejam isto, mas acreditam, por puro desconhecimento, que utilizar a fala como meio de ganho de vida é simplesmente despejar um conjunto de informações numa verborreia sem fim. Aí começa o problema: você pode estar correto nas informações que tenta transmitir e também sobre o que elas representam para algumas decisões ou atividades com o grupo de pessoas com quem trabalha (qualquer que seja o setor onde atue), porém as pessoas não se convencem de que as informações são reais ou mesmo de o falante está consciente do que está afirmando: sua para-verbalidade resvala na ambiguidade entre o que diz e como diz. Isto, a título de exemplo, numa situação de sala de aula leva o docente a uma condição de pouco crédito. Se isto ocorre, dá para imaginar as consequência um tanto quanto negativas desta falha comunicativa na relação professor-aluno ou mais além, na de ensino-aprendizagem ...

*Para-verbal: paralelo ao verbal - significa encontro próximo ou andar lado a lado, isto distancia da ideia de negação do verbo como aparente o termo em língua portuguesa (não-verbal: a negação, neste caso, sempre dá ideia de extração ou ausência). O termo para-verbal, na minha opinião, traz o conceito mais apropriado porque acrescenta ou soma, não decresce ou tira absolutamente nada. 

terça-feira, 3 de março de 2015

Sobre oratória, liderança, motivação e cenário comunicativo.

Um estilo de personalidade descreve não somente características pessoais como também a maneira como um indivíduo se relaciona e se comporta do ponto de vista comunicativo. Mas esse estilo não determina uma rigidez de ação comunicativa uma vez que o outro interlocutor – dadas suas próprias referências pessoais e sociais –, interfere na maneira como alguém pretende expressar suas ideias.
Obviamente, em razão desse pressuposto, a maturidade perceptiva é muito importante para quem utiliza a comunicação como meio de atuação profissional, como no caso do professor. Assim, a estratégia expositiva deve ser decorrente não somente de transferência de informações, mas também de uma possibilidade de interação humana. Não se pode imaginar que a aula seja uma série de mensagens consecutivas com conceitos ali embutidos. Isto é relevante apenas para o caráter informacional (e não deve ser confundido com instrução). Durante uma exposição imagina-se que o profissional deverá possuir um comportamento comunicativo que provoque ações comunicativas nos sujeitos, confirmando o recebimento do contexto interativo. Isso, na maior parte das vezes, se dá quando o silêncio do estudante permite a reflexão no entorno do que está sendo objetivamente colocado neste processo comunicativo.
A percepção do professor em relação ao silêncio do estudante é que deve ser rebuscada, pois o silêncio não pode ser um processo de passividade comunicativa, mas de muita ação interlocutória: visão atenta, procedimentos reflexivos expressos na face, atitude proativa (que pode transformar o silêncio em uma intervenção oral por parte do aluno, se estimulada pelo professor) e uma série de elementos gestuais e corporais que demandam exclusão do cansaço auditivo.
Uma sala de aula pouco entrosada – alunos em estado de conflito entre si – reportam ao professor uma situação comunicativa ambígua, que fica impossível de gerenciar. A comunicação, em ambientes conflituosos, normalmente é do tipo confrontativa, de modo que cada espaço comunicativo está baseado em estratégia competitiva, delimitando terrenos, desintegrando correspondências.
Isso, descrito para ambiente de sala de aula, também ocorre em ambientes corporativos até mesmo em maior intensidade. A habilidade comunicativa, portanto, vai além de compor discursos informativos. E qualquer inabilidade em falar nos locais competitivos é identificada rapidamente pelos interlocutores, de tal forma que a liderança fica extremamente prejudicada. Isso se dá muito mais em razão do insucesso em estabelecer relações interpessoais mais densas do que manter-se parcamente disponível apenas ao registro e exposição de mensagens informativas.
Lidar com esses percalços é o que potencializa o arsenal comunicativo de um sujeito, pois sua habilidade está em utilizar seu estilo pessoal e único para antecipar as situações conflituosas e deixar de lado a própria rigidez, adaptando sua estratégia comunicativa aos estilos mais próximos da realidade em que a comunicação acontece. Todo ambiente é comunicativo e possui um cenário próprio. É necessário identificar esse ambiente, caracterizá-lo e se colocar nele para projetar suas ideias de modo a serem percebidas pelos demais, apesar das resistências contidas naqueles que participam do ambiente e são convidados a participar do contexto comunicativo.

Todo ambiente comunicativo é um ambiente de complementaridade. Sem entender isso um orador – professor, líder – perde a possibilidade de simetria. Essa simetria corresponde a condições de relacionamento em que alguém, em definitivo assume o papel de comportamento dominante, graças ao seu perfil de personalidade adaptável às circunstâncias menos promissoras. É neste exato momento que estamos começando a delinear o sujeito caracterizado como motivador.