A comunicação eficaz, como já se sabe, está repleta de
estratégias. O problema ocorre quando o uso dessas estratégias está muito afastado
da percepção do próprio emissor da informação. As estratégias consideram a
articulação correta entre a comunicação verbal e a não verbal.
Mesmo não sendo o foco principal dos meus estudos em nível
de doutoramento, de forma alguma podemos descaracterizar a relevância dos
elementos que compõe o discurso. Elementos tais que, em contrapartida, são
subdimensionados pela maioria dos profissionais que utilizam da fala como
principal ingrediente de sua atuação. Isto é para aqueles que copiam 'fórmulas mágicas' por aí afora.
Em se tratando de comunicação não verbal temos que ter claro
que o discurso, bem além das palavras, tem que possuir estreita relação com
circunstâncias reforçadoras da linguagem não verbal (na literatura da área em
espanhol encontra-se o termo para-verbal*, algo que me agrada mais do ponto de
vista conceitual). Neste conceito de para-verbalidade estão inseridos elementos como os gestos, expressões
faciais, entonação da voz, intensidade da fala, modelos articulatórios, ritmo e
harmonia no encadeamento de palavras.
O indivíduo que mais se preocupa com o que vai dizer na
maior parte das vezes não concebe ou reflete sobre COMO vai se expressar. Conceito já vencido, correto? Mas o importante para isto é considerar o fato de que a fala mais genuína, amalgamada
com o estilo de personalidade, traz consigo esses elementos da comunicação
para-verbal como indicadores do estilo próprio ou único (agora sua atenção muda!). A falta de consciência sobre
como esses elementos aparecem em seu discurso é que corresponde a uma total
falta de controle sobre sua comunicação.
Para entender melhor: trata-se da bruxa má (no papel de madrasta)
e a bela princesa que passa a desconfiar, num determinado momento – quando mais
madura e mais atenta –, das boas intenções de sua preceptora. Para a ‘pobre’
princesa que de boba não tem nada, os elementos para-verbais atestam absoluta
falta de genuinidade no discurso da rainha má ou da disponibilidade de auxílio da ‘velha
amável’ – ou bruxa. Resvala sempre pela face da bela princesa um quê de dúvida
quanto ao discurso que ouve. Porém, recursar-se a participar do processo de interação pressupõe muita falta de elegância social para uma menina de ‘boa formação’ como as
princesas ou mocinhas dos contos de fadas.
Em analogia, o mesmo ocorre com o discurso do indivíduo que
tenta convencer os outros pelas palavras, mas esquece que sua comunicação é um
todo complexo. Demanda tempo conhecer como cada elemento que aqui citamos
integra favoravelmente o discurso. Demanda também um processo de racionalização
sobre como utilizar esses elementos de forma que o conjunto soe razoavelmente
aceitável do ponto de vista de convencimento. E não estamos tratando aqui de programação
neurolinguística – particularmente eu dispenso essa pseudociência. Estamos
tratando seriamente da originalidade, da autenticidade. O convencimento ao qual
me refiro é a organização do discurso como sendo um todo agradável e pertinente
a um estilo. Convence porque é consistente, é muito próprio e coeso. É constante
também – passamos a identificar uma pessoa portadora de um tipo muito
particular de conversa que passa longe da ideia de ‘conversa fiada’ toda vez que abre a boca para falar.
Essa concepção de discurso é que tratamos aqui. Técnicas e estratégias de comunicação são processos que devem ser trabalhados em contexto clínico para
agregar autenticidade à fala. Muitos profissionais almejam isto, mas acreditam, por puro
desconhecimento, que utilizar a fala como meio de ganho de vida é simplesmente
despejar um conjunto de informações numa verborreia sem fim. Aí começa o problema: você pode estar
correto nas informações que tenta transmitir e também sobre o que elas representam para algumas decisões ou
atividades com o grupo de pessoas com quem trabalha (qualquer que seja o setor
onde atue), porém as pessoas não se convencem de que as informações são reais
ou mesmo de o falante está consciente do que está afirmando: sua
para-verbalidade resvala na ambiguidade entre o que diz e como diz. Isto, a título de exemplo, numa situação de sala de aula leva o
docente a uma condição de pouco crédito. Se isto ocorre, dá para imaginar as consequência
um tanto quanto negativas desta falha comunicativa na relação professor-aluno ou mais além, na de ensino-aprendizagem ...
*Para-verbal: paralelo ao verbal - significa encontro próximo ou andar lado a lado, isto distancia da ideia de negação do verbo como aparente o termo em língua portuguesa (não-verbal: a negação, neste caso, sempre dá ideia de extração ou ausência). O termo para-verbal, na minha opinião, traz o conceito mais apropriado porque acrescenta ou soma, não decresce ou tira absolutamente nada.
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