A Relação professor-aluno é parte integrante e fundamental do
processo educativo. Enquanto os pesquisadores examinam as percepções de
professores dessas relações, pouco se sabe sobre as atitudes dos alunos. Além
disso, a pesquisa de comunicação instrucional mais recente abordou muito pouco sobre
séries do ensino fundamental e médio. Normalmente os estudos estão mais focados
em ensino superior referente a uma questão de formação profissional. Num
inquérito realizado por West em 1994 – 20 anos atrás! - administrado a 158
alunos de ensino fundamental e médio, foi solicitado que estes identificassem
as suas experiências interpessoais mais positivas e negativas com os
professores. Tais vivências foram transcritas e categorizadas. Como resultado
aquela pesquisa definiu três categorias numa dimensão Positiva (professor que
ajuda, professor que reconhece, e postura de prazer pela atividade de ensinar)
e cinco categorias de dimensão Negativa (constrangimento, rigidez disciplinar
injustificável, uso de agressão desnecessária, inadequação de expressão de afeto,
expectativas irreais). Das experiências comunicativas que emergiram da análise
pode-se perceber, na minha concepção, o mau uso de palavras, expressões e
possivelmente de estilos de comunicar. Há mais de 20 anos essa pesquisa foi
realizada e pouco se avançou neste assunto.
Em outra pesquisa, conduzida por Frymier e Houser em 2000
(15 anos atrás!) as habilidades de comunicação foram examinadas na relação
professor-aluno. Neste estudo descobriu-se que os estudantes relataram
habilidade referencial (manutenção do foco de conversa), apoio ao ego (que
compreendo como a identidade do aluno), e gerenciamento de conflitos como sendo
mais importante para um ensino eficaz. Ademais, os pesquisadores definiram que
habilidade referencial, apoio ao ego, e certa dose de imediatismo para
gerenciar conflitos possuem uma forte relação com a aprendizagem dos alunos e
motivação dos mesmos. Assim, fica claro que a comunicação é uma atitude
produtiva no relacionamento entre o docente e seus educandos. É, de fato um
agir comunicativo que resulta em relacionamento interpessoal positivo, desde
que os interlocutores e, em especial o professor – claro, por ser o adulto da
conversa – ter claro que suas expressões são definidas pela sua personalidade e,
portanto, necessita de identificação consciente. Sem isso o uso da palavra pode
ser negativo.
A percepção dos alunos sobre a personalidade do professor e
a consequente avaliação da instrução já foram também estudadas e estão
fortemente relacionadas. Muito embora, nos estudos de Clayson (2006) o
pesquisador identificou que os alunos pareciam usar de uma medida contaminada
para estabelecer personalidade de seus mestres, bem como de estabelecerem a
relação desta com as avaliações da instrução. Segundo o autor, as implicações
são muitas e isso nos faz refletir sobre a pobreza de repertório humano para
construir classificações mais precisas sobre o si mesmo e outras pessoas.
Claro
que uma aula expositiva recebe influência do estilo de comunicar do professor está vinculado –
já demonstramos em outro
artigo* - com a personalidade deste. Contudo, o que chama
mais a atenção é o fato de que o aluno, por ser objeto de avaliação do
professor, também não se dedica em estabelecer uma noção mais clara do mestre
como interlocutor. Também já vimos em
postagem anterior* que não há clareza na
identificação dos tipos de personalidade quando o interesse em si mesmo é
ausente na modernidade líquida. Cabe aqui, portanto a reflexão de que ensinar
vai além de gostar ou desejar, perpassa também pelo processo de autoconhecimento
que, se o professor tiver habilidade para se autoconceituar, provavelmente
fornecerá modelo de como exercitar essa atividade e converter isso em
habilidade em seus educandos. Necessário, para tanto, dedicar-se a si mesmo e
no aprimoramento de suas expressões verbais mais coerentes com seu perfil de
personalidade. Parece, conforme a ilustração, um ciclo vicioso que se
retroalimenta.
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autor: Profª Drª Maria Angela Lourençoni |
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Referências:
Clayson, D. E. (2006) Personality and the Student Evaluation of Teaching. Journal of Marketing Education August. Vol. 28 nº. 2, p. 149-160Frymier, A.
B. & Houser, M. L. (2000) The teacher‐student relationship as an
interpersonal relationship. Communication
Education. Vol. 49, Nº. 3
West, Richard
(1994) Teacher‐student communication: A descriptive typology of students’
interpersonal experiences with teachers. Communication
Reports. Vol. 7, Nº. 2