sexta-feira, 15 de abril de 2016

Não acredite em vilões.

Estamos repletos de vilania nas relações humanas. Quer seja na vida pessoal ou profissional, as vilanias aparecem. Os sentimentos vis como egoísmo exacerbado, inveja, raiva, entre outros, faz com que as pessoas se atirem com força na hipocrisia ou mesmo na agressividade, manipulação, sordidez ...

A força da vilania bebe na fonte da insensatez e não na insanidade. Nos quadrinhos os vilões aparecem como loucos. Mas eles se nutrem, na verdade, de sentimentos de revolta, descaso ou mesmo de pedantismo. Tudo isso oculta uma poderosa frustração que culmina em agressividade consumista. Daquele tipo com características destrutivas.

Quando acreditamos na vilania, deixamos que ela tome conta de nossos prazeres, bebemos na fonte corrosiva da hostilidade e nos deixamos abater por sua presença nauseante.

Quando acreditamos na vilania, cedemos ao desgaste. Nos permitimos vandalizar.

O pedante, o revoltado, o desafeto é um tipo de indivíduo que assume a rudeza perante a vida e aos outros. Nem sempre é uma pessoa forte – lembre-se que os vilões dos quadrinhos estão sempre fortalecidos por um poder energético qualquer e, com isso, visam impregnar o mundo com seu egoísmo sórdido.

Lutar, combater é acreditar na possibilidade de medir forças com isso.

Já se questionou sobre seus poderes? Isto é: você acredita em super poderes, em heróis? Desnecessário esse intuito por seu caráter desgastante. Acreditar em lutar e combater a vilania parece mais uma sujeição controlada por processos ilusórios e imaturos da personalidade não concluída.

Pense na hipótese de ignorar e desacreditar no potencial da vilania. Ela morre em sua própria natureza destrutiva. Por isso, vilões não existem, são processos em destrutivos em auto decomposição. Analise sob esse prisma e aposente o super herói que ainda insiste em morar dentro de você.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Síndrome de Mulher Heróica: reconheça os sintomas (desmistificando a Auto Realização)

Sintomas:

  1. Acreditar que o trabalho corresponde a uma batalha que deve ser vencida e, não parte de uma rotina a ser vivida.
  2. Aceitar ajuda em último caso, quando já não pode estar presente ou lidar com situações imprevistas.
  3. Planejar, organizar e seguir cronogramas detalhadamente traçados com objetivo de estar sempre em condição de vantagem (mesmo que atribua a isso o nome de facilitação das rotinas).
  4. Evitar demonstração pública de afeto, em especial quando sente que está sendo avaliada (sendo que esse sentimento de estar sendo vigiada, avaliada é constante).
  5. Evitar ceder em discussões para não demonstrar fraqueza ou dependência (em especial a emocional).
  6. Fazer da rotina estressante com compromissos domésticos e profissionais um mérito próprio em conversas sociais, sem deixar transparecer fadiga ou incômodo.
  7. Dedicar-se à rotinas de beleza como forma de aparecer publicamente super bem e pronta para qualquer 'batalha'.
  8. Ler ou estudar tendo como foco acumular erudição, se aperfeiçoar e não pelo prazer ou relaxamento.
  9. Evitar emitir críticas como forma de não se permitir à autocrítica.
  10. Nunca revelar cansaço, estar sempre bem disposta (a academia torna-se fonte de beleza e também de fortalecimento energético).
  11. Acompanhar e estar ciente de tudo o que acontece em casa, ou na escola com os filhos, com ganas de resolver pessoalmente qualquer pendência.
  12. Necessidade de explicitar verbalmente seu afeto pelos filhos e pessoas próximas de seu relacionamento em conversas e situações sociais para parecer conveniente e bem.
  13. Priorizar o relacionamento pessoal uma ponte para o sucesso, como meio de fortalecer sua imagem social de vida e pessoa perfeita (esse sintoma é difícil de detectar sem terapia).
  14. Associado a sintomas anteriores, acrescenta-se a obsessão pelo controle financeiro da família. 


A Auto Realização é um conceito dentro da teoria psicológica, com referência profundamente Humanista, acerca das Necessidades Humanas criada e defendida pelo Psicólogo Abraham Maslow. O indivíduo auto realizado é aquele que conquista a excelência do seu potencial. Dada sua natureza positiva, segundo o humanismo, a pessoa parte em busca de realizar suas necessidades. Até chegar na Auto Realização a pessoa vai avançando em necessidades mais básicas desde as fisiológicas até as mais elevadas como estima, onde reside o apreço da sociedade, o reconhecimento e a própria auto estima.
Em tempos de desafios profissionais que a mulher da modernidade decidiu participar, o sucesso pessoal nem sempre é consonante com as conquistas obtidas no mercado de trabalho. Há, ainda, para compor o cenário desse universo feminino, que conceber os talentos, considerados inatos do gênero XX. Isso leva a mulher à condição de multi tarefa em jornada dobrada ou tripla. Tal situação não é novidade e o tema  largamente abordado pelos eruditos do século XXI já se esgotou em todos os seguimentos que avançam em discussão sobre o assunto.
A dissociação pessoal versus trabalho é que ascende algumas fêmeas humanas ao comportamento de Mulher Heróica.
O que importa, portanto, é reconhecer e identificar como a questão desse heroísmo aparentemente maravilhoso afeta não somente o comportamento ou mesmo o emocional feminino, mas também o sentido de bem estar. A satisfação pessoal tão almejada pode estar sendo sabotada pela rotina cansativa de manter-se em pleno estado de batalha.
A Mulher Heróica pode estar, na verdade, fixa na fase anterior das necessidades descritas por Maslow, que não corresponde à Auto Realização, porque, por vezes, ela se isenta de ser beneficiada com sua postura, a não ser quando está centrada no impacto que seu comportamento, aparentemente super valorizado, provoca nas pessoas.
A Mulher Heróica não se valoriza prioritariamente, seu foco é demonstrar sua independência, transformando a vida numa batalha a ser vencida (e não vivida) com a expectativa de parecer cada vez mais perfeita. Nem sempre ela acredita ser perfeita, por isso esse item não consta nos sintomas, pois se isso fosse verdade ela não precisaria se esforçar tanto. Na verdade, todo esforço rotineiro da Mulher Heróica, é uma forma de mascarar por não conseguir lidar com suas imperfeições.
Todos nós dependemos de afetividade, assim como somos imperfeitos. Assim se delineia a real fraqueza humana. Claro que algumas pessoas têm necessidades limitadas de afeto e, os que não têm, seguramente, devem possuir alguma patologia. Sem o afeto arruinaríamos o humano que há em nós, sem imperfeições seríamos deuses. Almejar essa condição parece-me um tanto demasiado para nossos limítrofes poderes energéticos...

terça-feira, 10 de março de 2015

Sobre a comunicação não verbal ou para-verbal - discurso genuíno



A comunicação eficaz, como já se sabe, está repleta de estratégias. O problema ocorre quando o uso dessas estratégias está muito afastado da percepção do próprio emissor da informação. As estratégias consideram a articulação correta entre a comunicação verbal e a não verbal.
Mesmo não sendo o foco principal dos meus estudos em nível de doutoramento, de forma alguma podemos descaracterizar a relevância dos elementos que compõe o discurso. Elementos tais que, em contrapartida, são subdimensionados pela maioria dos profissionais que utilizam da fala como principal ingrediente de sua atuação. Isto é para aqueles que copiam 'fórmulas mágicas' por aí afora.
Em se tratando de comunicação não verbal temos que ter claro que o discurso, bem além das palavras, tem que possuir estreita relação com circunstâncias reforçadoras da linguagem não verbal (na literatura da área em espanhol encontra-se o termo para-verbal*, algo que me agrada mais do ponto de vista conceitual). Neste conceito de para-verbalidade estão inseridos elementos como os gestos, expressões faciais, entonação da voz, intensidade da fala, modelos articulatórios, ritmo e harmonia no encadeamento de palavras.
O indivíduo que mais se preocupa com o que vai dizer na maior parte das vezes não concebe ou reflete sobre COMO vai se expressar. Conceito já vencido, correto? Mas o importante para isto é considerar o fato de que a fala mais genuína, amalgamada com o estilo de personalidade, traz consigo esses elementos da comunicação para-verbal como indicadores do estilo próprio ou único (agora sua atenção muda!). A falta de consciência sobre como esses elementos aparecem em seu discurso é que corresponde a uma total falta de controle sobre sua comunicação.

Para entender melhor: trata-se da bruxa má (no papel de madrasta) e a bela princesa que passa a desconfiar, num determinado momento – quando mais madura e mais atenta –, das boas intenções de sua preceptora. Para a ‘pobre’ princesa que de boba não tem nada, os elementos para-verbais atestam absoluta falta de genuinidade no discurso da rainha má ou da disponibilidade de auxílio da ‘velha amável’ – ou bruxa. Resvala sempre pela face da bela princesa um quê de dúvida quanto ao discurso que ouve. Porém, recursar-se a participar do processo de interação pressupõe muita falta de elegância social para uma menina de ‘boa formação’ como as princesas ou mocinhas dos contos de fadas.
Em analogia, o mesmo ocorre com o discurso do indivíduo que tenta convencer os outros pelas palavras, mas esquece que sua comunicação é um todo complexo. Demanda tempo conhecer como cada elemento que aqui citamos integra favoravelmente o discurso. Demanda também um processo de racionalização sobre como utilizar esses elementos de forma que o conjunto soe razoavelmente aceitável do ponto de vista de convencimento. E não estamos tratando aqui de programação neurolinguística – particularmente eu dispenso essa pseudociência. Estamos tratando seriamente da originalidade, da autenticidade. O convencimento ao qual me refiro é a organização do discurso como sendo um todo agradável e pertinente a um estilo. Convence porque é consistente, é muito próprio e coeso. É constante também – passamos a identificar uma pessoa portadora de um tipo muito particular de conversa que passa longe da ideia de ‘conversa fiada’ toda vez que abre a boca para falar.

Essa concepção de discurso é que tratamos aqui. Técnicas e estratégias de comunicação são processos que devem ser trabalhados em contexto clínico para agregar autenticidade à fala. Muitos profissionais almejam isto, mas acreditam, por puro desconhecimento, que utilizar a fala como meio de ganho de vida é simplesmente despejar um conjunto de informações numa verborreia sem fim. Aí começa o problema: você pode estar correto nas informações que tenta transmitir e também sobre o que elas representam para algumas decisões ou atividades com o grupo de pessoas com quem trabalha (qualquer que seja o setor onde atue), porém as pessoas não se convencem de que as informações são reais ou mesmo de o falante está consciente do que está afirmando: sua para-verbalidade resvala na ambiguidade entre o que diz e como diz. Isto, a título de exemplo, numa situação de sala de aula leva o docente a uma condição de pouco crédito. Se isto ocorre, dá para imaginar as consequência um tanto quanto negativas desta falha comunicativa na relação professor-aluno ou mais além, na de ensino-aprendizagem ...

*Para-verbal: paralelo ao verbal - significa encontro próximo ou andar lado a lado, isto distancia da ideia de negação do verbo como aparente o termo em língua portuguesa (não-verbal: a negação, neste caso, sempre dá ideia de extração ou ausência). O termo para-verbal, na minha opinião, traz o conceito mais apropriado porque acrescenta ou soma, não decresce ou tira absolutamente nada. 

terça-feira, 3 de março de 2015

Sobre oratória, liderança, motivação e cenário comunicativo.

Um estilo de personalidade descreve não somente características pessoais como também a maneira como um indivíduo se relaciona e se comporta do ponto de vista comunicativo. Mas esse estilo não determina uma rigidez de ação comunicativa uma vez que o outro interlocutor – dadas suas próprias referências pessoais e sociais –, interfere na maneira como alguém pretende expressar suas ideias.
Obviamente, em razão desse pressuposto, a maturidade perceptiva é muito importante para quem utiliza a comunicação como meio de atuação profissional, como no caso do professor. Assim, a estratégia expositiva deve ser decorrente não somente de transferência de informações, mas também de uma possibilidade de interação humana. Não se pode imaginar que a aula seja uma série de mensagens consecutivas com conceitos ali embutidos. Isto é relevante apenas para o caráter informacional (e não deve ser confundido com instrução). Durante uma exposição imagina-se que o profissional deverá possuir um comportamento comunicativo que provoque ações comunicativas nos sujeitos, confirmando o recebimento do contexto interativo. Isso, na maior parte das vezes, se dá quando o silêncio do estudante permite a reflexão no entorno do que está sendo objetivamente colocado neste processo comunicativo.
A percepção do professor em relação ao silêncio do estudante é que deve ser rebuscada, pois o silêncio não pode ser um processo de passividade comunicativa, mas de muita ação interlocutória: visão atenta, procedimentos reflexivos expressos na face, atitude proativa (que pode transformar o silêncio em uma intervenção oral por parte do aluno, se estimulada pelo professor) e uma série de elementos gestuais e corporais que demandam exclusão do cansaço auditivo.
Uma sala de aula pouco entrosada – alunos em estado de conflito entre si – reportam ao professor uma situação comunicativa ambígua, que fica impossível de gerenciar. A comunicação, em ambientes conflituosos, normalmente é do tipo confrontativa, de modo que cada espaço comunicativo está baseado em estratégia competitiva, delimitando terrenos, desintegrando correspondências.
Isso, descrito para ambiente de sala de aula, também ocorre em ambientes corporativos até mesmo em maior intensidade. A habilidade comunicativa, portanto, vai além de compor discursos informativos. E qualquer inabilidade em falar nos locais competitivos é identificada rapidamente pelos interlocutores, de tal forma que a liderança fica extremamente prejudicada. Isso se dá muito mais em razão do insucesso em estabelecer relações interpessoais mais densas do que manter-se parcamente disponível apenas ao registro e exposição de mensagens informativas.
Lidar com esses percalços é o que potencializa o arsenal comunicativo de um sujeito, pois sua habilidade está em utilizar seu estilo pessoal e único para antecipar as situações conflituosas e deixar de lado a própria rigidez, adaptando sua estratégia comunicativa aos estilos mais próximos da realidade em que a comunicação acontece. Todo ambiente é comunicativo e possui um cenário próprio. É necessário identificar esse ambiente, caracterizá-lo e se colocar nele para projetar suas ideias de modo a serem percebidas pelos demais, apesar das resistências contidas naqueles que participam do ambiente e são convidados a participar do contexto comunicativo.

Todo ambiente comunicativo é um ambiente de complementaridade. Sem entender isso um orador – professor, líder – perde a possibilidade de simetria. Essa simetria corresponde a condições de relacionamento em que alguém, em definitivo assume o papel de comportamento dominante, graças ao seu perfil de personalidade adaptável às circunstâncias menos promissoras. É neste exato momento que estamos começando a delinear o sujeito caracterizado como motivador.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A comunicação que nos enlouquece - percebendo a incompreensão.



Não é incomum que cheguemos à conclusão de que não estamos sendo compreendidos em algum momento de nossas várias interlocuções. Nosso pecado mortal ocorre justamente quando, em nome da tranquilidade, fingimos não perceber a confusão do outro, ou o que é pior: fingimos não perceber as nossas impropriedades discursivas (que não alcançam o outro, ouvinte).

O efeito aqui retratado, de incompreensão, tem muito pouco ou quase nada a ver com a questão da falta de acuidade auditiva do receptor. De fato, o que ocorre, na maior parte das vezes é que nosso interlocutor tende a dar maior atenção auditiva exatamente às palavras que fazem melhor sentido a ele. A ênfase colocada pelo emissor da ideia, se não estiver finamente sintonizada com o objetivo do discurso, não refletirá na atenção mais precisa do ouvinte. Atenção esta que deve recair sobre as palavras que tornam, em conjunto, uma informação propícia de ser melhor compreendida.

Quando os estilos de comunicação entre emissor e receptor são divergentes, a razão deve ser o elemento mais importante da estruturação do discurso a fim de que haja melhor probabilidade de interpretação correta. Mas esse é um artifício difícil de ser dominado, pois somos constantemente alvejados por emoções.

Sentimentos são variáveis valiosas no processo de comunicação e que podem definir o rumo de uma emissão de discurso bem como de engavetar a possibilidade de recepção da informação. Sentimentos são norteadores do processo comunicativo, pois nem sempre se dá o uso da palavra apenas por questões racionais. Explico: antes da necessidade de transmissão de ideia há o impulso emotivo que torna interessante o espírito de troca de informações. Emoções estas que não estão alijadas do processo interno de elaboração do discurso e muito menos se distanciam do tom do voz que contorna as palavras emitidas.

Considerados por muitos docentes como elementos periféricos da comunicação - a voz, a emoção, os sentimentos pessoais - ficam subjacentes ao contexto de estratégia comunicativa nos planos educacionais do ensino formal, onde se aposta em definitivo na estruturação do discurso: formação de repertório linguístico (semântica), regras gramaticais (sintaxe) e conteúdo da informação (coesão e coerência).

Não descarto a importância desses elementos, mas convoco o leitor a imaginar que hoje, de posse dessas mesmas estruturas um software de produção e edição de texto é capaz de construir frases e transmitir informações de formas mais rebuscadas, elegantes e eficazes do um ser humano, cujo repertório gramatical e linguístico não é tão vasto em sua memória. Sim, estou comparando o ensino da linguagem como sendo semelhante ao que se pode fazer com uma máquina. E isso desqualifica a importância de outros elementos psicossociais que perpassam pelo sistema comunicativo humano, largamente ignorado nas estantes do saber formal da educação. Um comportamento tão distanciado do real humano para o ensino da linguagem implica em cada vez mais formatar as pessoas a reproduzirem fórmulas discursivas. Produzem pobreza linguística em seres desprovidos de autenticidade, distanciando os indivíduos do interesse pelo uso da palavra e da apropriação da linguagem como recurso de transmissão de suas concepções mais internas em sua mente e mundo de sensações. Isso corresponde ao motivo do silêncio diante da percepção de ter sido incompreendido: não há como decompor essa impressão quando os recursos para tanto ainda sequer foram desenvolvidos pelo sujeito nessas condições de desproviento. As pessoas passam a vida morrendo na incompreensão e enlouquecidas por essa sensação de impotência diante de sua identidade desconhecida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O prazer de comunicar como definição de humano.

Intrigante como a tendência humana para a comunicação faz com que os seres dessa espécie se integrem em comunidades diversas com a simples finalidade de trocar ideias através de palavras. Poucos aderem ao silêncio da leitura como saciedade, assim como outros poucos buscam no silêncio da fala meio de transmitir seus pensamentos.


A sociedade moderna transborda em aspectos comunicativos: redes e redes virtuais promovem mecanismos de saciedade para esse processo de 'parlatório' tão caracteristicamente humano. Uma necessidade quase libidinosa que não tem freios diante da possibilidade de fácil exposição. Fala-se o que quer, quando quer, onde quer, da forma que quiser ... desenfreadamente nas redes sociais globalizadas.




Ainda que o humor permeie grande parte das comunicações neste sistema moderno, tente encontrar entre seus conhecidos ou 'amigos' - como são chamados aqueles que pertencem à sua rede de relacionamentos - um que seja autêntico, que tenha um estilo próprio, único e incomparável. Redes sociais é o sistema mais compartilhável do novo mundo e que confere menos genuinidade às pessoas. Seres humanos que se apoderam desse sistema como se fosse uma forma de conquistar o poder e ali não se detém frente ao clique de transferência. Sim, não se trata mais de informar e sim de transferir. E isto muda por completo o conceito de transmissão de ideias e a pretensa necessidade de saciar a secura que se acumula diante de tanta oferta - sem filtros - de possibilidades de transferências.

Dentre os estilos de comunicação que estudei, um deles, o Retraído seria aquele que menos se apropria da fala para trabalhar seus relacionamentos. Diante do perfil de temperamento mais Introvertido, este não se sente enclausurado em dificuldades, mas tende, por princípio, a atender saciedades internas antes de expor suas ideias. Trata-se de uma pessoa que se ampara também numa performance Reflexiva - outro perfil de personalidade - e, muitas das vezes, quando se expõe, o faz de forma mais Ponderada (estilo de comunicação relacionado ao perfil reflexivo).



Por muitos anos, o perfil Introvertido, se viu diante da letra escarlate nos meios corporativos, uma vez que esse identitário era considerado o menos capacitado para a habilidade de relacionamento interpessoal. Não foi a essa conclusão que chegamos quando descrevemos em meu doutorado os estilos de comunicar. O estilo retraído de comunicação é justamente aquele cuja saciedade de interagir se dá, prioritariamente consigo mesmo antes de ocorrer em sociedade. Contudo, isto não implica que, diante de oferta de transferências das redes sociais virtuais, ele se coloque mudo ou reticente. Por vezes, nas comunidades em que pertence, ele pode até mesmo se tornar agressivo em suas transmissões, expondo de forma mais intensa aquilo que pensa ou copia de outras pessoas, oculto pelo pseudo-anonimato da tela de computador. E, novamente, este não é um dado negativo do ponto de vista da comunicação.

Ao contrário do que muitos pensavam, o sujeito com esse perfil demonstra possuir necessidades comunicativas como qualquer outro. Dadas as suas características de personalidade, o Retraído, se ocupa do processo de forma mais ocluída, mas não é avesso - guardadas as devidas proporções do caso a caso - à comunicação como uma tendência. Tais evidências se deram até a conclusão de nossos estudos em 2013 de modo que podemos compreender que a dedicação desses indivíduos ao silêncio como sua prioridade não pode ser mais considerada como única e verdadeira.


sábado, 14 de fevereiro de 2015

Estilos de Comunicar diante da instrução - nova abordagem para a relação professor-aluno

A Relação professor-aluno é parte integrante e fundamental do processo educativo. Enquanto os pesquisadores examinam as percepções de professores dessas relações, pouco se sabe sobre as atitudes dos alunos. Além disso, a pesquisa de comunicação instrucional mais recente abordou muito pouco sobre séries do ensino fundamental e médio. Normalmente os estudos estão mais focados em ensino superior referente a uma questão de formação profissional. Num inquérito realizado por West em 1994 – 20 anos atrás! - administrado a 158 alunos de ensino fundamental e médio, foi solicitado que estes identificassem as suas experiências interpessoais mais positivas e negativas com os professores. Tais vivências foram transcritas e categorizadas. Como resultado aquela pesquisa definiu três categorias numa dimensão Positiva (professor que ajuda, professor que reconhece, e postura de prazer pela atividade de ensinar) e cinco categorias de dimensão Negativa (constrangimento, rigidez disciplinar injustificável, uso de agressão desnecessária, inadequação de expressão de afeto, expectativas irreais). Das experiências comunicativas que emergiram da análise pode-se perceber, na minha concepção, o mau uso de palavras, expressões e possivelmente de estilos de comunicar. Há mais de 20 anos essa pesquisa foi realizada e pouco se avançou neste assunto.
Em outra pesquisa, conduzida por Frymier e Houser em 2000 (15 anos atrás!) as habilidades de comunicação foram examinadas na relação professor-aluno. Neste estudo descobriu-se que os estudantes relataram habilidade referencial (manutenção do foco de conversa), apoio ao ego (que compreendo como a identidade do aluno), e gerenciamento de conflitos como sendo mais importante para um ensino eficaz. Ademais, os pesquisadores definiram que habilidade referencial, apoio ao ego, e certa dose de imediatismo para gerenciar conflitos possuem uma forte relação com a aprendizagem dos alunos e motivação dos mesmos. Assim, fica claro que a comunicação é uma atitude produtiva no relacionamento entre o docente e seus educandos. É, de fato um agir comunicativo que resulta em relacionamento interpessoal positivo, desde que os interlocutores e, em especial o professor – claro, por ser o adulto da conversa – ter claro que suas expressões são definidas pela sua personalidade e, portanto, necessita de identificação consciente. Sem isso o uso da palavra pode ser negativo.
A percepção dos alunos sobre a personalidade do professor e a consequente avaliação da instrução já foram também estudadas e estão fortemente relacionadas. Muito embora, nos estudos de Clayson (2006) o pesquisador identificou que os alunos pareciam usar de uma medida contaminada para estabelecer personalidade de seus mestres, bem como de estabelecerem a relação desta com as avaliações da instrução. Segundo o autor, as implicações são muitas e isso nos faz refletir sobre a pobreza de repertório humano para construir classificações mais precisas sobre o si mesmo e outras pessoas. 
Claro que uma aula expositiva recebe influência do estilo de comunicar do professor está vinculado  – já demonstramos em outro artigo* - com a personalidade deste. Contudo, o que chama mais a atenção é o fato de que o aluno, por ser objeto de avaliação do professor, também não se dedica em estabelecer uma noção mais clara do mestre como interlocutor. Também já vimos em postagem anterior* que não há clareza na identificação dos tipos de personalidade quando o interesse em si mesmo é ausente na modernidade líquida. Cabe aqui, portanto a reflexão de que ensinar vai além de gostar ou desejar, perpassa também pelo processo de autoconhecimento que, se o professor tiver habilidade para se autoconceituar, provavelmente fornecerá modelo de como exercitar essa atividade e converter isso em habilidade em seus educandos. Necessário, para tanto, dedicar-se a si mesmo e no aprimoramento de suas expressões verbais mais coerentes com seu perfil de personalidade. Parece, conforme a ilustração, um ciclo vicioso que se retroalimenta.

autor: Profª Drª Maria Angela Lourençoni
*clicar na palavra para seguir link

Referências: 
Clayson, D. E. (2006) Personality and the Student Evaluation of Teaching. Journal of Marketing Education August.  Vol. 28 nº. 2, p. 149-160Frymier, A. B. & Houser, M. L. (2000) The teacher‐student relationship as an interpersonal relationship. Communication Education. Vol. 49, Nº. 3
West, Richard (1994) Teacher‐student communication: A descriptive typology of students’ interpersonal experiences with teachers. Communication Reports. Vol. 7, Nº. 2