sábado, 14 de fevereiro de 2015

Estilos de Comunicar diante da instrução - nova abordagem para a relação professor-aluno

A Relação professor-aluno é parte integrante e fundamental do processo educativo. Enquanto os pesquisadores examinam as percepções de professores dessas relações, pouco se sabe sobre as atitudes dos alunos. Além disso, a pesquisa de comunicação instrucional mais recente abordou muito pouco sobre séries do ensino fundamental e médio. Normalmente os estudos estão mais focados em ensino superior referente a uma questão de formação profissional. Num inquérito realizado por West em 1994 – 20 anos atrás! - administrado a 158 alunos de ensino fundamental e médio, foi solicitado que estes identificassem as suas experiências interpessoais mais positivas e negativas com os professores. Tais vivências foram transcritas e categorizadas. Como resultado aquela pesquisa definiu três categorias numa dimensão Positiva (professor que ajuda, professor que reconhece, e postura de prazer pela atividade de ensinar) e cinco categorias de dimensão Negativa (constrangimento, rigidez disciplinar injustificável, uso de agressão desnecessária, inadequação de expressão de afeto, expectativas irreais). Das experiências comunicativas que emergiram da análise pode-se perceber, na minha concepção, o mau uso de palavras, expressões e possivelmente de estilos de comunicar. Há mais de 20 anos essa pesquisa foi realizada e pouco se avançou neste assunto.
Em outra pesquisa, conduzida por Frymier e Houser em 2000 (15 anos atrás!) as habilidades de comunicação foram examinadas na relação professor-aluno. Neste estudo descobriu-se que os estudantes relataram habilidade referencial (manutenção do foco de conversa), apoio ao ego (que compreendo como a identidade do aluno), e gerenciamento de conflitos como sendo mais importante para um ensino eficaz. Ademais, os pesquisadores definiram que habilidade referencial, apoio ao ego, e certa dose de imediatismo para gerenciar conflitos possuem uma forte relação com a aprendizagem dos alunos e motivação dos mesmos. Assim, fica claro que a comunicação é uma atitude produtiva no relacionamento entre o docente e seus educandos. É, de fato um agir comunicativo que resulta em relacionamento interpessoal positivo, desde que os interlocutores e, em especial o professor – claro, por ser o adulto da conversa – ter claro que suas expressões são definidas pela sua personalidade e, portanto, necessita de identificação consciente. Sem isso o uso da palavra pode ser negativo.
A percepção dos alunos sobre a personalidade do professor e a consequente avaliação da instrução já foram também estudadas e estão fortemente relacionadas. Muito embora, nos estudos de Clayson (2006) o pesquisador identificou que os alunos pareciam usar de uma medida contaminada para estabelecer personalidade de seus mestres, bem como de estabelecerem a relação desta com as avaliações da instrução. Segundo o autor, as implicações são muitas e isso nos faz refletir sobre a pobreza de repertório humano para construir classificações mais precisas sobre o si mesmo e outras pessoas. 
Claro que uma aula expositiva recebe influência do estilo de comunicar do professor está vinculado  – já demonstramos em outro artigo* - com a personalidade deste. Contudo, o que chama mais a atenção é o fato de que o aluno, por ser objeto de avaliação do professor, também não se dedica em estabelecer uma noção mais clara do mestre como interlocutor. Também já vimos em postagem anterior* que não há clareza na identificação dos tipos de personalidade quando o interesse em si mesmo é ausente na modernidade líquida. Cabe aqui, portanto a reflexão de que ensinar vai além de gostar ou desejar, perpassa também pelo processo de autoconhecimento que, se o professor tiver habilidade para se autoconceituar, provavelmente fornecerá modelo de como exercitar essa atividade e converter isso em habilidade em seus educandos. Necessário, para tanto, dedicar-se a si mesmo e no aprimoramento de suas expressões verbais mais coerentes com seu perfil de personalidade. Parece, conforme a ilustração, um ciclo vicioso que se retroalimenta.

autor: Profª Drª Maria Angela Lourençoni
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Referências: 
Clayson, D. E. (2006) Personality and the Student Evaluation of Teaching. Journal of Marketing Education August.  Vol. 28 nº. 2, p. 149-160Frymier, A. B. & Houser, M. L. (2000) The teacher‐student relationship as an interpersonal relationship. Communication Education. Vol. 49, Nº. 3
West, Richard (1994) Teacher‐student communication: A descriptive typology of students’ interpersonal experiences with teachers. Communication Reports. Vol. 7, Nº. 2


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