sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A comunicação que nos enlouquece - percebendo a incompreensão.



Não é incomum que cheguemos à conclusão de que não estamos sendo compreendidos em algum momento de nossas várias interlocuções. Nosso pecado mortal ocorre justamente quando, em nome da tranquilidade, fingimos não perceber a confusão do outro, ou o que é pior: fingimos não perceber as nossas impropriedades discursivas (que não alcançam o outro, ouvinte).

O efeito aqui retratado, de incompreensão, tem muito pouco ou quase nada a ver com a questão da falta de acuidade auditiva do receptor. De fato, o que ocorre, na maior parte das vezes é que nosso interlocutor tende a dar maior atenção auditiva exatamente às palavras que fazem melhor sentido a ele. A ênfase colocada pelo emissor da ideia, se não estiver finamente sintonizada com o objetivo do discurso, não refletirá na atenção mais precisa do ouvinte. Atenção esta que deve recair sobre as palavras que tornam, em conjunto, uma informação propícia de ser melhor compreendida.

Quando os estilos de comunicação entre emissor e receptor são divergentes, a razão deve ser o elemento mais importante da estruturação do discurso a fim de que haja melhor probabilidade de interpretação correta. Mas esse é um artifício difícil de ser dominado, pois somos constantemente alvejados por emoções.

Sentimentos são variáveis valiosas no processo de comunicação e que podem definir o rumo de uma emissão de discurso bem como de engavetar a possibilidade de recepção da informação. Sentimentos são norteadores do processo comunicativo, pois nem sempre se dá o uso da palavra apenas por questões racionais. Explico: antes da necessidade de transmissão de ideia há o impulso emotivo que torna interessante o espírito de troca de informações. Emoções estas que não estão alijadas do processo interno de elaboração do discurso e muito menos se distanciam do tom do voz que contorna as palavras emitidas.

Considerados por muitos docentes como elementos periféricos da comunicação - a voz, a emoção, os sentimentos pessoais - ficam subjacentes ao contexto de estratégia comunicativa nos planos educacionais do ensino formal, onde se aposta em definitivo na estruturação do discurso: formação de repertório linguístico (semântica), regras gramaticais (sintaxe) e conteúdo da informação (coesão e coerência).

Não descarto a importância desses elementos, mas convoco o leitor a imaginar que hoje, de posse dessas mesmas estruturas um software de produção e edição de texto é capaz de construir frases e transmitir informações de formas mais rebuscadas, elegantes e eficazes do um ser humano, cujo repertório gramatical e linguístico não é tão vasto em sua memória. Sim, estou comparando o ensino da linguagem como sendo semelhante ao que se pode fazer com uma máquina. E isso desqualifica a importância de outros elementos psicossociais que perpassam pelo sistema comunicativo humano, largamente ignorado nas estantes do saber formal da educação. Um comportamento tão distanciado do real humano para o ensino da linguagem implica em cada vez mais formatar as pessoas a reproduzirem fórmulas discursivas. Produzem pobreza linguística em seres desprovidos de autenticidade, distanciando os indivíduos do interesse pelo uso da palavra e da apropriação da linguagem como recurso de transmissão de suas concepções mais internas em sua mente e mundo de sensações. Isso corresponde ao motivo do silêncio diante da percepção de ter sido incompreendido: não há como decompor essa impressão quando os recursos para tanto ainda sequer foram desenvolvidos pelo sujeito nessas condições de desproviento. As pessoas passam a vida morrendo na incompreensão e enlouquecidas por essa sensação de impotência diante de sua identidade desconhecida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário